quinta-feira, 21 de março de 2013

Reforço positivo X Elogio vazio



Por Fernanda Nogueira

Escutamos por todos os lados, auto-estima é muito importante! Se ame! Use seu potencial!
E é verdade neh? Então as pessoas querem reforçar a auto- estima das crianças para evitar problemas no futuro... É, faz sentido, mas deixemos claro a diferença entre elogio e reforço positivo, incentivo.
Quantas e quantas vezes já não presenciei a cena de um adulto dizendo à uma criança “você é muito inteligente, vai ser blá blá blá quando crescer!!!”, “uau, olha só você, como é precoce!!!”, “Fulaninho já está sabendo as letras, acho que seria melhor avançá-lo um ano na escola para não prejudicá-lo, já pensou, formado antes dos amigos?”, e nem precisa estar num espaço escolar pra vivenciar isso, basta estar perto de uma criança e sua família.
É muito relevante que os pais valorizem as conquistas das crianças, cada aprendizado é muito importante, é a construção de todo o seu conhecimento, e quando a criança sente que tem apoio, respaldo ela fica mais segura para seguir em frente. Mas é importante frisar que o que deve ser elogiado é o ato em sí, o esforço feito para alcançar o objetivo, explorar com a criança como ela fez, que foi uma solução interessante, enfim, motivá-la a batalhar, a não desistir, a enxergar o que faz de especial. O elogio simples à pessoa: “você é muito inteligente”, “você é o mais isso ou aquilo da sua turma”, “olha meu Ensteinzinho...” pode jogar um peso muito grande nas costas da criança. 
Vou explicar melhor, se porque a criança tem um interesse por determinado assunto e faz com que ela aprenda e por ESTE FATO ser tachado de inteligente pode gerar nela uma insegurança, afinal internamente ela sabe que tem muitas dúvidas e não sabe muitas coisas, mas como decepcionar este adulto que acredita fervorasamente que ela é mesmo muito inteligente?
Li sobre uma pesquisa feita em Nova York, pela psicóloga Carol Dweck  com alunos do quinto ano de uma escola. Eles fizeram testes de QI (ultrapassado método para “medir” nível de inteligência) e nos resultados com algumas crianças, os pesquisadores teciam elogios e diziam que ela era muito inteligente, num segundo momento deram uma prova para as crianças, depois da correção eles reforçaram para um grupo que eles deviam ser mesmo muito inteligentes e para outro grupo parabenizaram pelo esforço, pela forma criativa que encontraram para responder as questões. Em outra etapa foi proposto para este grupo a realização de outra prova, mas deixaram claro o nível de dificuldade de cada tipo de prova, que nas mais difíceis poderiam aprender coisas novas. O grupo dos “inteligentes” deu preferência ao tipo de prova mas fácil e o dos “esforçados” topou tentar algo mais difícil.  Tinha mais duas etapas nessa pesquisa mas só com este exemplo já da pra elucidar o tema.
Então, o que poderia mesmo ser um genio no futuro, dada à pressão de expectativas geradas em cima dele, pode inibir a vontade de tentar algo novo, o medo de falhar e perder o “título” poderá fazê-lo perder muitas oportunidades de aprender. Então ele fica na zona de conforto (nos temas que domina) para continuar parecendo “inteligente”. Os adultos também fazem isso. Evitando os riscos para não perder a fama e atenção.
Já o reforço positivo à uma atitude bacana, o “ver o lado bom” da história e elucidar os pontos fortes, trará o reforço da atenção pelo “tentar”, pelo arriscar e dar o melhor de si, “a recompensar virá se eu me esforçar”, o elogio vem pelo caminho da autonomia do pensar e do agir, a imagem que fica é que vale sim, a pena investir.
O elogio é visto como uma recompensa para o cérebro, e a nossa máquina quer sempre ser recompensada, se for pelo caminho mais fácil ótimo, se for pelo mais difícil ‘bora’ tentar!
A vida é feita de desafios, quanto mais obstáculos conseguirmos transpor, mais fortes e sábios seremos, ficar na zona de segurança é muito limitador, é tudo muito restrito. Pense passar a vida sem nunca sair de seu bairro só porque ali você conhece de cor e salteado todos os nomes das ruas e vielas, só por se sentir seguro ali, com medo de conhecer o mundo e suas histórias, sem se perder nas cidades e descobrir coisas, paisagens e pessoas incríveis. Pense nisso ;)

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